A dor crônica pode ser atenuada pelo exercício regular?

Marco Andrade, MD
4 min readJun 8, 2023

--

Um estudo incluindo mais de 10 000 adultos demonstrou que aqueles que mantinham atividades físicas moderadas a intensas com regularidade, durante o período do estudo, relataram maior tolerância à dor.

Esse estudo foi referido por alguns pesquisadores como de elevada importância devido ao longo tempo de acompanhamento dos participantes, entre 7 a 8 anos.

Por outro lado, a importância desse estudo cresce quando observamos que muitos de nós sofremos de dores crônicas.

“Ficarmos parados” não nos traz ajuda.

E mais um dado importante do estudo: até mesmo o exercício leve foi associado a uma maior tolerância à dor.

Cortesia — Pixabay

O investigador principal desse estudo, Dr. Anders Pederson Arnes, informou que houve indícios de que a quantidade de atividade física ao longo do tempo e a alteração no nível de atividade foram importantes para uma maior tolerância à dor. Tudo isso aponta para a possibilidade de que o aumento da atividade física possa aumentar a tolerância à dor.

Entretanto, qualquer nível de atividade física é melhor do que nada.

Devemos, pois, estimular as pessoas mais próximas de nós para que observem, pelo menos, alguma atividade física, em especial, para aqueles que apresentem algum nível de dor crônica. E não nos devemos esquecer que os mais idosos devem ser, diariamente, estimulados a praticar exercícios físicos.

Os resultados do estudo foram baseados na tolerância à dor medida pelo teste de pressão fria que media o maior tempo possível que os participantes mantinham a mão submersa em água gelada. A tolerância ao teste foi 7%, 14% e 16% maior, respectivamente, para os participantes dos grupos com exercícios leves, moderados e intensos em comparação com o grupo de participantes sedentários.

O Dr. Arnes disse que “qualquer tipo de atividade ao longo do tempo é melhor do que ser sedentário”. E acrescentou que “envolver-se em atividade física habitual no tempo de lazer está associado a uma maior tolerância à dor”.

Mas, como explicar esses resultados?

Acredita-se que o exercício aeróbico seja uma intervenção eficaz na dor lombar crônica (DLC), embora seus mecanismos permaneçam amplamente não testados.

Um recente estudo avaliou se os mecanismos endógenos de opióides (EO) poderiam contribuir para os efeitos analgésicos de uma intervenção do exercício aeróbico para a DLC. Os resultados parecem indicar que os exercícios aeróbicos, na ausência de outras intervenções, parecem eficazes para o controle da DLC. Esse estudo parece provavelmente demonstrar que os benefícios dos exercícios aeróbicos estão relacionados com a inibição endógena da dor, em parte, com os mecanismos endógenos de opióides.

Nunca é tarde para mudanças.

Voltando ao estudo de Arnes e colegas, esses pesquisadores descobriram ainda que as pessoas que eram sedentárias, no início do estudo, e que relataram maior atividade física durante o acompanhamento do estudo também apresentaram maior tolerância à dor em comparação com aquelas que pessoas que permaneceram sedentárias; esse achado, entretanto, não foi estatisticamente significativo.

Para os participantes do estudo que praticaram exercícios moderados a intensos ao longo do tempo, ficou demonstrada uma maior tolerância à dor, com um desempenho 20,4 segundos a mais no teste do estudo do que aqueles que eram consistentemente sedentários.

Essa maior tolerância à dor foi observada em pessoas, que praticaram exercícios moderados a intensos ao longo do tempo, um desempenho 20,4 segundos a mais no teste de pressão fria do que aqueles que eram consistentemente sedentários (resultado estatisticamente significativo — p<0,001).

Não houve diferença significativa na tolerância à dor entre homens e mulheres.

Os resultados do estudo indicam que uma mudança positiva no nível de atividade física ao longo do tempo foi associada a uma maior tolerância à dor.

Então, tudo indica que o nível total de atividade pode definir quanto mais tolerante à dor, você estará preparado e quanto mais atividade parece ser melhor.

Embora esse estudo tenha explorado a relação entre os níveis gerais de atividade física e uma forma de dor aguda; os dados de outros estudos permitem indicar que há benefício para outras formas de dor.

Isso sugere que o exercício é benéfico para indivíduos que vivem com dor, conforme as palavras do Prof. Cohen.

Há, entretanto, dúvidas sobre como o exercício pode afetar a tolerância ou o risco de dor crônica e investigações estão em curso.

Seu médico pode mais bem indicar que tipo de atividade física e intensidade, você pode praticar. Fale com ele.

É importante que “você se mexa”.

Caminhar é a forma mais comum de exercícios aeróbicos recomendados para pessoas com dor crônica.

Referências

  • ARNES AP et al (2023) — PloS ONE 18(5) : e0285041 https : //doi.org/10.1371/journal.pone.0285041 — May24,2023
  • BRUEHL S et al — PAIN 161(12):p 2887–2897, December 2020. | DOI: 10.1097/j.pain.0000000000001969
  • BURTON KW — Medscape May 31, 2023
  • NAUGLE KM — Pract Pain Manag 2016; 16(9)

--

--

Marco Andrade, MD
Marco Andrade, MD

Written by Marco Andrade, MD

Medical Doctor | Master’s degree, Nephrology | Clinical Researcher focused on Onco-Hematology, Infectious Diseases | 30+ years of experience

No responses yet