Disfunção erétil: Exercício ou Sildenafil? Exercício pode ser tão bom quanto Sildenafil.
Há mais de uma década que encontramos publicações que demonstram a importância do exercício físico na melhora da atividade sexual, contribuindo, inclusive para a redução de casos de disfunção erétil.
Pesquisas realizadas nos EUA mostraram que 43% das mulheres e 31% dos homens tinham algum tipo de disfunção sexual; a obesidade e a falta de atividade física estavam entre as causas do problema. Um estudo publicado na revista médica “The Journal of Sexual Medicine” revelou que homens com circunferência abdominal ou IMC elevados apresentaram 50% mais chances de ter disfunção erétil, enquanto as mulheres obesas relataram dificuldades sexuais e falta de desejo. Este estudo mostrou ainda que as participantes que se exercitavam seis horas por semana apresentavam uma melhor performance e satisfação sexual do que as que não faziam exercício.
Curtos períodos de exercício, como caminhadas rápidas regulares, podem ajudar no bem-estar sexual.
Muitos especialistas têm estudado a importância e o impacto do sexo na saúde mental e na qualidade de vida, e como fazer exercício pode ajudar.
O que parece claro é que quando a pessoa se exercita acontece uma revolução interna. Com a prática da atividade aeróbica, há aumento do fluxo de sangue e, em outras palavras, a circulação funciona melhor. Nos homens, este é um fator preponderante para as ereções, e nas mulheres, contribuiu, pelo menos, para a lubrificação vaginal.
É possível manter o desempenho sexual em ótimo nível com a adoção de práticas mais saudáveis. Acabar com o sedentarismo é fundamental, ou seja, realizar exercícios físicos com regularidade. Não é preciso ser atleta ou frequentar academias sofisticadas para melhorar a saúde e, consequentemente, o desempenho sexual. Uma simples caminhada diária já proporciona melhora.
A prática de exercícios físicos leva à liberação de serotonina, uma substância presente no cérebro que age como neurotransmissor, e que permite a comunicação entre as células nervosas do cérebro, os neurônios. A serotonina desempenha importante papel no sistema nervoso, como a liberação de alguns hormônios, regulação do sono, do apetite, da atividade motora e das funções cognitivas. A serotonina também ajuda a melhorar o humor, proporcionando uma sensação de bem estar.
Assim, a prática de exercícios físicos deixa as pessoas mais dispostas para a relação sexual. Há melhora da autoestima, há redução do nível de estresse e de ansiedade, além de outros benefícios. Exercícios regulares, como andar de bicicleta ou caminhar, melhoram a eficiência do coração, pulmões e sistema circulatório, e, em consequência, um organismo “mais saudável”.
Importante: O sedentário não deve praticar exercícios físicos, sem antes consultar um médico para uma avaliação clínica.
A disfunção erétil (antes, descrevia-se como impotência sexual) tem muitos fatores implicados, mas vamos falar disso mais adiante.
Praticar exercícios físicos por pelo menos 30 minutos, três vezes por semana, pode ser tão eficaz quanto o Viagra e medicamentos similares na melhoria da função erétil, de acordo com uma nova análise das melhores pesquisas até o momento sobre exercícios aeróbicos e função erétil.
O estudo, publicado este mês no “The Journal of Sexual Medicine”, mostrou que as atividades aeróbicas — como caminhar ou andar de bicicleta — melhoraram a função erétil em todos os homens com disfunção erétil, independentemente do peso corporal, saúde geral ou uso de medicamentos. Homens com disfunção erétil mais grave obtiveram os maiores benefícios.
Larry E. Miller, PhD, comentou que “este estudo fornece aos médicos e pacientes a prova necessária para recomendar definitivamente a atividade aeróbica como parte do tratamento da disfunção erétil (DE)”.
Há muito tempo que os médicos sabem que a função erétil está ligada à saúde cardiovascular, mas as evidências limitadas de alta qualidade sobre o impacto do exercício sobre esse distúrbio eram limitadas.
Os pesquisadores dessa recente publicação analisaram a literatura científica e 11 ensaios randomizados e controlados foram identificados. Esses estudos apresentavam um desenho de estudo padrão-ouro em que os participantes são designados aleatoriamente para receber ou não uma intervenção. Um total de 1.100 homens estavam envolvidos nesses estudos, 600 deles foram atribuídos a grupos “experimentais” (os incluídos nesse grupo exercitavam-se durante 30 a 60 minutos, três a cinco vezes por semana), enquanto os demais 500 foram atribuídos a grupos “controle” (onde os aqui incluídos não tinham um plano de exercício).
O dado significativo identificado pelos pesquisadores foi que “quanto pior era a DE, mais o exercício ajudava”. Esses estudos utilizaram uma escala padronizada de 6 a 30 para classificar a DE, e quanto mais baixa a contagem dos pontos, mais grave era a DE. E o que foi identificado? Homens com disfunção erétil grave que praticaram exercícios relataram uma melhoria de 5 pontos na função erétil. Aqueles com DE leve e moderada obtiveram melhorias de 2 e 3 pontos, respectivamente.
Os autores do estudo observaram que os inibidores da fosfodiesterase-5 — como o sildenafil (Viagra) ou o tadalafil (Cialis) — podem levar a melhorias de 4 a 8 pontos. E a terapia de reposição de testosterona pode levar a uma melhoria de 2 pontos.
O Dr. Miller comentou “Ficamos particularmente impressionados com a descoberta de que os homens com disfunção eréctil mais grave registraram maiores melhorias com o exercício, e essas melhorias foram semelhantes às observadas em homens que tomam medicamentos como o Viagra”.
A disfunção erétil muitas vezes pode ser atribuída às mesmas causas das doenças cardiovasculares, incluindo inflamação, estreitamento das artérias (disfunção endotelial) ou endurecimento das artérias (aterosclerose).
“É importante reconhecer que a disfunção erétil muitas vezes pode servir como um indicador ou barômetro da saúde cardiovascular subjacente”, disse Amy Pearlman, MD, urologista especializada em saúde sexual masculina no Prime Institute em Miami.
Pearlman não esteve envolvido no estudo, mas acha que os resultados fazem sentido. “É lógico que qualquer intervenção destinada a melhorar a saúde cardiovascular também pode ter um impacto positivo na saúde eréctil”.
Mas o que foi surpreendente?
O exercício aeróbico reduziu os sintomas da mesma forma que medicamentos como o Viagra, comentou o urologista Rahul Mehan, MD, fundador do East Valley Urology Center, em Mesa, AZ. (Mehan também não esteve envolvido no estudo.)
Embora os medicamentos para disfunção erétil sejam geralmente baratos e acessíveis, alguns pacientes não querem tomá-los ou não toleram os efeitos colaterais. Isso pode incluir “dor de cabeça, azia, náusea, rubor e dor nos músculos, costas, braços ou pernas”, disse Mehan. Entretanto, “todos podem se exercitar”, complementou o Dr. Mehan.
Alguns médicos, incluindo Mehan, já recomendam exercícios para seus pacientes com DE.
Mas, agora, todos podem dizer aos pacientes que a prática habitual de exercícios é “uma abordagem comprovada, apoiada por dados de alta qualidade de estudos randomizados”.
E esse médico ainda acrescentou “o exercício é de baixo risco e acessível, o que o torna uma opção de tratamento de primeira linha ideal para dificuldades de ereção, especialmente para pacientes que não desejam ou não podem usar medicamentos”.
Não há dúvidas de que o exercício é fundamental para a saúde em geral, entretanto, a disfunção erétil pode estar relacionada a muitos fatores, como, por exemplo, fatores emocionais, psíquicos e outros.
Uma pesquisa realizada, há mais 2 décadas, com a principal finalidade de se observar a segurança do sildenafil em pacientes hipertensos, com disfunção erétil, mostrou paralelamente que a DE estava relacionada exclusivamente com fatores emocionais ou psíquicos.
O que ocorreu, então?
Nessa pesquisa, os pacientes foram distribuídos, em dois grupos, em um modelo de estudo chamado duplo cego (quando o médico e o paciente não sabem se o medicamento utilizado, naquela fase, é o medicamento ativo — no caso, o sildenafil — medicamento A ou um “medicamento” inerte, sem atividade, denominado placebo — medicamento B). Esses pacientes tomavam a medicação por algumas semanas. Como o modelo do estudo era também cruzado, os pacientes de cada grupo, em uma segunda fase, recebiam o segundo medicamento, por mais algumas semanas, ou seja, o segundo medicamento era diferente do da primeira fase, assim o paciente que recebeu o medicamento A, na primeira fase, recebia o medicamento B, na segunda fase e, ao contrário, quem recebeu o medicamento B, na primeira fase, recebia o medicamento A, na segunda fase. A ordem da tomada dos medicamentos A ou B foi determinada aleatoriamente, como de hábito, em estudos randomizados. Ao término do estudo, pode-se observar que alguns pacientes que receberam o medicamento B (placebo) relataram melhora da DE, logo na primeira fase, e, por outro lado, alguns pacientes que mostraram melhora com o medicamento A, na primeira fase, seguiram com melhora da DE, na segunda fase, agora com o uso do placebo. Um outro dado interessante é que encerrada a pesquisa, alguns desses pacientes, no seguimento do tratamento da hipertensão arterial, não mais relatavam DE.
O que se pode concluir a partir desses dados?
Os dados dessa pesquisa demonstram que a DE merece uma abordagem multidisciplinar e, há casos, que não necessitam de medicamentos com indicação específica para a DE.
Se você apresenta DE procure o seu médico. Seu médico poderá indicar a melhor conduta para o seu caso. Não pratique a automedicação.
Referências
- KHERA M et al — Journal of Sexual Medicine — 2023 October 16
- SOUTHWICK C — Medscape — 2023 October 23