EXERCÍCIO FÍSICO AJUDA O PACIENTE COM OSTEOARTRITE?

Marco Andrade, MD
8 min readFeb 19, 2024

Cortesia — Freepik

Osteoartrite (OA) é uma doença das articulações e é a doença articular mais comum no mundo. OA é uma doença multifatorial crônica que compromete os componentes articulares. Esse comprometimento gera rigidez articular, deformidades, dor e redução funcional.

Anteriormente, pensava-se que a OA era apenas causada pelo afinamento da cartilagem; atualmente, sabe-se que é uma doença de toda a articulação. Com a perda da cartilagem, o osso cresce visando à reparação do dano. Entretanto, o crescimento habitualmente anormal do osso aumenta o comprometimento da articulação, com dor e instabilidade da própria articulação.

A OA afeta tanto os homens como as mulheres e é uma das maiores causas de incapacidade das pessoas quando envelhecem.

Algumas estimativas indicam que, no Brasil, a OA afeta cerca de 6–12% dos adultos e mais de um terço dos idosos. Alguns dados internacionais revelam que a OA de joelhos é a principal causa de incapacidade para pessoas com idade superior a 50 anos.

Essa doença articular se apresenta inicialmente pelo desgaste da cartilagem articular e segue com uma evolução crônica com aspectos degenerativos, com dor, rigidez matinal, atrofia muscular e crepitação óssea e os aspectos radiológicos da articulação comprometida permitem a confirmação do diagnóstico.

Vale ressaltar que é uma afecção bastante comum e é diagnosticada em cerca de 44% e 70% dos indivíduos acima de 50 anos de idade; sendo que na faixa etária acima de 75 anos, 85% dos indivíduos estão acometidos. A OA uma das principais causas da consulta médica e é responsável por um número exorbitante de absenteísmo e aposentadorias por invalidez.

Habitualmente, o início do desenvolvimento da OA está entre 50 e 60 anos. Alguns dados indicam que cerca de 12% da população acima de 65 anos apresentam OA sintomática, com queixas de dor, principalmente, matinal em uma ou mais articulações do corpo.

Face ao amplo quadro clínico da doença, diversas formas de intervenção têm sido apontadas, como medicamentos, cirurgias, fisioterapia e a prática de exercícios físicos.

E como o exercício físico pode ajudar na OA?

Antigamente, a imobilidade era a prescrição para o paciente com OA.

Hoje, sabe-se que o exercício físico melhora ou mantém a força muscular, a aptidão física e a saúde em geral. De um modo geral, as pessoas se exercitam por diversas razões, ou para a perda de peso, ou para o fortalecimento muscular e aqui podemos incluir para o alívio de sintomas da osteoartrite.

A fraqueza muscular tem sido associada ao prejuízo funcional e a perda de força na região periarticular pode resultar em instabilidade e estresse anormal na articulação. Há evidências acumuladas e sugestivas de que o fortalecimento muscular pode reduzir a progressão da doença.

Bem, todos nós sabemos que o exercício regular é importante para a saúde em geral.

Mas, para pacientes com dores nas articulações, o exercício físico pode ser a última coisa que desejariam fazer. Embora o exercício seja um dos pilares do tratamento da artrite, quase um terço dos pacientes com artrite são inativos.

Quais são os benefícios do exercício na osteoartrite?

De acordo com duas revisões da Cochrane, há evidências de alta qualidade de que o exercício pode ajudar a reduzir a dor, bem como melhorar a função física na OA de quadril e joelho. Há dados que indicam que a atividade física pode diminuir a dor e melhorar a função em cerca de 40% em adultos com artrite.

O exercício desempenha ainda um importante papel na prevenção da incapacidade, através da melhora da amplitude do movimento articular e da manutenção da massa muscular de sustentação das articulações.

Um estudo, envolvendo cerca de 1200 pacientes com OA de joelho, comparou dois grupos de pacientes, aqueles que caminhavam com aqueles que não caminhavam. No grupo dos que caminhavam, houve redução da dor no joelho e 20% de menos probabilidade de piora do estreitamento do espaço articular.

Não há dúvidas de que pacientes com OA apresentam outras doenças crônicas, como doenças cardiovasculares e diabetes, e, nesses casos, já é bem conhecido o benefício do exercício físico.

Por outro lado, as taxas de depressão e ansiedade estão frequentemente mais elevadas nas pessoas com OA do que na população em geral. Os benefícios do exercício para esse grupo de doenças são também bem conhecidos.

Então, são muitos os motivos para que os pacientes com OA “se movimentem”.

E existe uma quantidade ideal de exercícios para os pacientes com OA?

Antes de mais nada, vale registrar as palavras da Dra. Kelli Allen, em apresentação na Reunião Anual do American College of Rheumatology (San Diego, 2023), quando comentou a pesquisa que indicou que “algum exercício é melhor do que nenhum”. A pesquisadora acrescentou que as recomendações de diretrizes atuais para que adultos façam 150 minutos de atividade física moderada por semana podem não ser factíveis para pacientes com dor crônica.

É verdade, entretanto, que as sugestões de um estudo, com um número importante de adultos com queixas articulares dos membros inferiores, são de que cerca de 1 hora de atividade física por semana poderia manter os participantes livres de incapacidades durante 4 anos.

Quantos passos podem trazer benefícios para a saúde?

Uma meta comumente sugerida é de 10.000 passos por dia. Mas, menos passos por dia também trazem benefícios à saúde.

Há um estudo com a inclusão de aproximadamente 1.800 pacientes com OA de joelho que trouxe um dado muito interessante. Caminhar 6.000 passos por dia foi um marco importante para determinar o risco do desenvolvimento ou não de limitações funcionais.

Esse estudo trouxe mais uma contribuição. Uma quantidade de 1.000 passos adicionais por dia foi associada a uma redução de 16% a 18% no risco de desenvolver limitações funcionais nos 2 anos seguintes. E ainda, parece haver benefícios adicionais com o acréscimo de sucessivos e subsequentes 1.000 passos.

Segundo a Dra. Allen, a mensagem útil é encorajar as pessoas com dor crônica. “Se conseguirmos chegar a 6.000 passos por dia, talvez seja uma boa meta”.

Quando entrevistada a respeito desse tema, a Doutora Grace H. Lo (Baylor College of Medicine, Houston, Texas) comentou que “fazer uma caminhada de 20 minutos três vezes por semana pode ser um bom ponto de partida”. Para aqueles que não fazem nenhuma atividade, ela recomenda um começo mais cauteloso, ou seja, aos poucos. Ela ressalta ainda a importância de que, a seguir, se mantenha a frequência da atividade física diária.

Muitos perguntam: Quais os tipos de exercício que são mais benéficos para aqueles com OA?

Não há claramente um tipo de exercício melhor para a OA. O paciente deve escolher aquele que mais lhe convenha. A Dra. Allen acrescentou que o melhor exercício é “qualquer coisa que alguém realmente vá fazer”.

Essas também são as palavras da Dra. Una Markis (North Texas VA Health Care System, Dallas, Texas) “não está claro para mim se um tipo de exercício é melhor que outro; tem mais a ver com o que o paciente gosta e como podemos tornar isso uma rotina, para que seja um comportamento sustentável”. Ela acrescentou que “geralmente, exercícios de menor impacto, como andar de bicicleta, caminhar ou nadar, tendem a ser melhores para a OA”. Recentemente, essa pesquisadora conduziu estudos sobre jardinagem como um tipo de exercício para a OA e concluiu que “é uma ótima maneira de incentivar as pessoas a se exercitarem”. Muitos pontos positivos para a jardinagem. A Dra. Markis comentou que “além da atividade física, os pacientes também podem estar ao ar livre”. E fazer jardinagem também traz muitos benefícios para a saúde mental.”

Quais recursos estão disponíveis?

Há muitos programas de exercícios disponíveis baseados em evidências que demonstraram a melhora dos sintomas da artrite. Converse com seu médico e busque a melhor orientação para você. Como o programa é on-line, pode ser difícil para quem não se sente confortável com esses meios de acesso. Mas se você conseguir a ajuda de um familiar ou amigo poderá ter benefícios com esses programas de exercícios.

A Dra Markis concluiu que não há uma única abordagem para todos. Ela comentou que tenta identificar o que é mais importante para cada paciente como um ponto de partida. Essa pesquisadora tenta identificar algo na vida cotidiana de cada paciente, em particular, e vincular a isso uma meta baseada na atividade física.

A Dra. Lo comentou que compreender o estilo de vida do paciente também é crucial quando se discute atividade física. “É preciso dar-lhes soluções práticas que possam realmente incorporar em suas vidas”, disse ela.

A revisão de Duarte e colegas, que envolveu a avaliação de diversos estudos, confirmou a eficácia do uso de exercícios na melhora dos sintomas decorrentes da osteoartrite, porém, traz a informação de que não há um consenso quanto aos parâmetros de aplicação, como intensidade e duração de cada tipo de exercício. A verificação dos artigos selecionados e avaliados indicou que o exercício físico é um método eficaz de intervenção terapêutica no tratamento da osteoartrite, com redução da dor e aumento da mobilidade.

Mas, o estudo conduzido em quatro centros da Suécia e Noruega (com a inclusão de 189 pacientes com osteoartrite de joelho) merece uma atenção especial.

Os participantes foram aleatoriamente selecionados para praticar exercícios de baixa intensidade/curta duração ou alta intensidade/longa duração, três vezes por semana, durante 12 semanas, sob a supervisão de um fisioterapeuta.

O programa de baixa intensidade/curta duração consistia na realização de cinco exercícios (bicicleta ergométrica, agachamento, subidas, descidas e extensões de joelho) por 20 a 30 minutos. Os participantes do grupo de alta intensidade/longa duração realizavam 11 exercícios em cada sessão, durante 70 a 90 minutos.

“Os pacientes dos dois grupos melhoraram significativamente com o tempo, mas o exercício de alta intensidade/longa duração não foi superior ao exercício de baixa intensidade/curta duração na maioria das comparações”, segundo a equipe de pesquisadores da Suécia.

Um ponto importante desse estudo: a adesão ao tratamento. A adesão foi “quase perfeita” no grupo de baixa intensidade/curta duração e um pouco menor no grupo de alta intensidade/longa duração, segundo os pesquisadores. A Dra. Kim Bennell (Universidade de Melbourne, Austrália) comenta também que, apesar de todas as diretrizes de conduta clínica para a osteoartrite de joelho recomendarem exercícios físicos, “não sabemos a dose ideal”.

A dose ideal envolve a frequência por semana, a quantidade de exercícios, séries e repetições, a intensidade e a duração das sessões de exercícios.

Mas, os resultados desse estudo sugerem que um programa mais curto e com menos exercícios ainda pode oferecer benefícios, e pode ser mais fácil que os pacientes iniciem e continuem praticando os exercícios do que com um programa que exija mais tempo e esforço. Os pesquisadores concluíram que “exercícios de baixa intensidade e curta duração são factíveis no tratamento da osteoartrite de joelho”.

Certamente, os pacientes com OA devem ter orientação personalizada para a obtenção de melhores resultados e os seus médicos são os profissionais que podem mais bem indicar o tratamento adequado.

Enfim, mova-se! Busque a orientação do seu médico!

Referências

  • DUARTE VS et alFisioter Mov. 2013 jan/mar;26(1):193–202
  • SILVA NCOV et al — Acta Fisiatr. 2014;21(3):141–146
  • TORSTENSEN TA et al — Ann Intern Med, February 2023
  • REMALY J — Medscape February 3, 2023
  • HICKS L — Medscape Medical News, February 14, 2024
  • FRANSEN M et al — Cochrane Database of Syst Rev 2014, Issue 4
  • ANDRADE MAS — Medium.com Jun 2, 2022

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Marco Andrade, MD

Medical Doctor | Master’s degree, Nephrology | Clinical Researcher focused on Onco-Hematology, Infectious Diseases | 30+ years of experience