TSH elevado é igual a um tratamento imediato? Quando tratar?

Marco Andrade, MD
5 min readMar 15, 2024

Os resultados de alguns exames de sangue, quando estão alterados, assustam muito os pacientes.

Um desses exames é o TSH (hormônio estimulador da tireoide) que, quando apresenta um valor elevado, traz desconforto e preocupação para o paciente.

Isso justifica o que disse recentemente, em uma conferência, o Dr. Joachim Feldkamp, ​​MD, PhD, diretor da Clínica Universitária para Medicina Interna geral, Endocrinologia, Diabetologia e Doenças Infecciosas no Hospital Central, Bielefeld, Alemanha.

A tiroxina e a L-tiroxina são dois dos 10 medicamentos mais frequentemente prescritos. E o Dr. Feldkamp comentou que “uma grande companhia de seguros de saúde classificou o hormônio tireoidiano em quarto lugar na lista dos medicamentos mais vendidos nos Estados Unidos. É possivelmente a segunda preparação mais comumente prescrita”.

Habitualmente, esses medicamentos são prescritos quando a glândula tireoide produz muito pouco hormônio tireoidiano. Vale lembrar que o TSH é o hormônio produzido na hipófise (glândula localizada no cérebro) que estimula a tireoide a produzir os seus próprios hormônios T3 (triiodotironina) e o T4 (tiroxina).

Um aumento no TSH pode inicialmente indicar que está sendo produzido muito pouco hormônio tireoidiano. E esse aumento do TSH, em palavras mais simples, seria o mecanismo do organismo para fazer com que a tireoide “trabalhasse mais”. Desse modo, esse hormônio estimulador da tireoide (TSH) é usado para avaliar a função tireoidiana. O TSH serve para uma rápida avaliação da função da tireoide.

O Dr. Feldkamp indica que nem todo valor elevado de TSH precisa ser tratado imediatamente. Investigações mais amplas demonstram que os valores de TSH estão sujeitos a flutuações. Esse especialista comenta que os resultados de avaliações individuais merecem cautela, antes de uma decisão terapêutica. Ele ainda recomenda que valores ligeiramente elevados de TSH devem ser verificados, novamente, após 2 a 6 meses, e o paciente deve ser questionado se apresenta algum sintoma.

Muito importante!

O Dr. Feldkamp explicou que “em 50% a 60% dos casos, o valor de TSH normalizou no segundo exame sem necessidade de qualquer tratamento”.

E o que leva à elevação dos valores de TSH? Os motivos são vários.

Há flutuações dos valores de TSH de acordo com o período do dia. À noite e no início da manhã, o valor de TSH é muito maior do que à tarde. E ainda, uma falta aguda de sono pode levar a valores mais elevados de TSH pela manhã. Então, se um paciente está preocupado com o exame a ser realizado no dia seguinte e tem uma noite de sono ruim, isso pode ser o fator para uma alteração pontual no valor de TSH obtido de uma amostra de sangue colhida nessa manhã.

É preciso lembrar que, no inverno, os valores de TSH são ligeiramente superiores (quando comparados com os do verão), devido à adaptação do nosso organismo a temperaturas mais frias. Algumas pesquisas já demonstraram que as pessoas que vivem em regiões mais frias apresentam valores de TSH significativamente mais elevados do que aquelas que vivem em regiões mais quentes.

A idade também leva a diferenças nos valores de TSH. As crianças e adolescentes apresentam valores de TSH mais elevados do que os adultos. Um outro dado importante: os valores de TSH aumentam com a idade. Em pessoas com idade entre 70 e 80 anos, os valores ligeiramente elevados de TSH — inicialmente — não são motivo para tratamento. O Dr. Feldkamp aconselha cautela durante o tratamento desses pacientes, pois o tratamento excessivo pode causar arritmias cardíacas e diminuição da densidade óssea.

Por outro lado, os valores de TSH das mulheres são geralmente um pouco mais elevados do que os dos homens.

Deve-se ter atenção para pacientes obesos. Nos pacientes obesos, há elevação do TSH e, muitas vezes, esses valores são mais elevados do que aqueles que são observados em pacientes com peso normal. Os valores elevados de TSH em pacientes obesos não significam obrigatoriamente uma baixa função da tireoide e representam habitualmente um mecanismo de ajuste do organismo. Isso pode ser comprovado pelo fato de que quando esses pacientes perdem peso, os valores de TSH caem sem nenhum tratamento específico; há uma queda espontânea do TSH com a perda de peso. Mais uma vez, vale ressaltar que valores de TSH ligeiramente elevados em pacientes obesos não devem ser tratados com hormônios tireoidianos.

Pode-se observar valores falsamente altos ou baixos de TSH nas avaliações sanguíneas de pacientes que usam alguns suplementos nutricionais, como a biotina. Esses suplementos são recomendados para alguns distúrbios de crescimento da pele, cabelo e unhas. É recomendável uma pausa de, pelo menos, 3 dias e, mais adequadamente, uma semana no uso desses suplementos, antes da coleta de sangue para a avaliação do TSH.

Mas será que há algumas prescrições de hormônios tireoidianos “apressadas”?

Cortesia — Freepik

O Dr. Feldkamp salienta que os hormônios da tireoide são, às vezes, prescritos muito rapidamente devido à suposição de que todo valor elevado de TSH se deve à presença de um quadro de hipotireoidismo.

Existe uma determinação sensata para um valor de TSH?

Aparentemente, não.

A avaliação do médico é essencial. Sintomas recentes, tais como ganho de peso, regulação do peso prejudicada apesar da redução do apetite, depressão, grande necessidade de sono, redução da qualidade de vida, disfunção cognitiva, déficit de memória, fadiga, fraqueza muscular, intolerância ao frio, constipação, podem indicar uma investigação mais aprofundada da função tireoidiana com a determinação dos hormônios tireoidianos livres T3 e T4. Poderão ser necessários exames mais específicos, como a detecção de anticorpos contra tecido tireoidiano autólogo, TPO-Ab [anticorpo contra peroxidase tireoidiana], TG-Ab [anticorpo contra tireoglobulina] e TRAb [anticorpo contra receptor de TSH], e, ainda, exame ultrassonográfico da tireoide.

Há, entretanto, muitas situações particulares, onde há valores elevados de TSH, em que o tratamento deve ocorrer, como em pacientes jovens, mulheres grávidas, pós-cirurgia de tireoide ou tratamento com iodo radioativo. Mas, essa decisão deve ser avaliada por seu médico.

Aqui, vale a pena lembrar que adequadamente o médico trata o paciente e não o exame.

Mas, para finalizar, é verdade que, diante de um exame anormal (alterado), todos ficam desconfortáveis: paciente e médico.

Quando o paciente possui um aumento discreto do hormônio tireoestimulante (TSH) e hormônios tireoidianos normais (dosagem de T4 livre), pode estar caracterizado o que se denomina de hipotireoidismo subclínico.

Nesses casos, como vimos anteriormente, o médico se pergunta: tratar ou não tratar?

O hipotireoidismo subclínico é um diagnóstico puramente laboratorial. O hipotireoidismo subclínico trata-se de uma disfunção tireoidiana leve e nem todos os pacientes se beneficiam do tratamento.

Os sintomas do hipotireoidismo subclínico estão presentes em uma minoria dos casos e esses sintomas são aqueles que foram anteriormente descritos e que o médico busca identificar durante a consulta do paciente que apresenta valores de TSH elevados.

Os sintomas do hipotireoidismo subclínico são semelhantes, embora mais leves, aos relatados por pacientes com hipotireoidismo clínico.

Isso reafirma a necessidade de estarmos sempre próximos do nosso médico clínico.

Referências

  • SCUBEL J, FELDKAMP J et al — Deutsches Arzteblatt International — 23 Jun 2017
  • FELDKAMP J — Deutsche Medizinische Wochenschrift — 01 Aug 2017
  • FELDKAMP J — German Society of Endocrinology’s Hormone Week — Online Conference — 2023
  • EPPINGER U — Medscape — Oct 05, 2023

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Marco Andrade, MD

Medical Doctor | Master’s degree, Nephrology | Clinical Researcher focused on Onco-Hematology, Infectious Diseases | 30+ years of experience