UMA DOENÇA CHAMADA OBESIDADE…
A publicação de Marilyn Larkin na revista Medscape, em 29 de agosto de 2024, chama a atenção sobre os problemas que os obesos, homens e mulheres, enfrentam no dia a dia.
Vale a pena refletir sobre o tema.
“Coma menos, aumente a sua atividade física” é o recado constante para os obesos.
Algumas iniciativas de diversos órgãos governamentais de saúde são baseadas nesse “binômio”.
Mas, a resposta é essa para todos que se encontram nessa situação clínica?
Tudo isso parece contribuir para a estigmatização de obesos, gerando até um sentimento de vergonha dos obesos; entretanto, muitos acreditam que isso poderia até mesmo auxiliar na mudança do comportamento dos obesos, com o seguimento de dietas e do aumento da prática de exercícios físicos.
Os obesos são injustamente taxados, diversas vezes, como preguiçosos, sem autodisciplina e sem força de vontade. Tudo isso complica a vida dos obesos, pois, além do risco de complicações médicas importantes, os obesos estão sempre diante de um estigma social. Os obesos e, até mesmo, aqueles com sobrepeso estão sujeitos à discriminação no local de trabalho, no transporte público, nos locais de atendimento à saúde, nos estabelecimentos educacionais e outras situações do cotidiano.
Um aspecto chama a atenção de muitos investigadores!
Chama a atenção que, em muitos atendimentos da saúde, a causa da obesidade não é adequadamente investigada. E, com alguma frequência, há para esses pacientes uma situação clínica que pode ser a causa da obesidade e corrigível com o tratamento adequado.
A investigação a seguir é — certa maneira — surpreendente…
Uma investigação, que envolveu 40 faculdades de Medicina, somente 10% delas acreditavam que os seus alunos estavam “bem preparados” para conduzir os pacientes com o quadro clínico de obesidade.
Então, é possível que haja uma falta de educação sobre a obesidade nas faculdades de Medicina, segundo os comentários de especialistas na área da obesidade.
Esses especialistas ressaltam que a maioria dos profissionais de saúde não recebe uma formação adequada sobre obesidade na faculdade de Medicina ou na pós-graduação. Muitos desses especialistas questionam se os profissionais de saúde não são até mesmo influenciados pelo preconceito relacionado com o peso presente na sociedade.
Alguns desses especialistas acreditam que muitos obesos, devido a experiências traumáticas e estigmatizantes com profissionais de saúde, até mesmo “bem-intencionados”, perderam o interesse nos cuidados de saúde e na realização de exames de rotina.
O que se vê, na prática hospitalar?
Não há frequentemente macas ou leitos adequados para pessoas obesas; não se vê rotineiramente na maioria dos ambulatórios ou consultórios cadeiras resistentes (e sem braços) em salas de espera, mesas de exame de tamanho grande, aventais e braçadeiras de pressão arterial em tamanho apropriado. Não se vê também, com frequência, banheiros adequados para indivíduos com maior peso.
A “queda do preconceito” seria de muita ajuda para que se pudesse “chegar” até a doença “obesidade”.
A obesidade é uma doença crônica e complexa. E, entre outros fatores, a obesidade é influenciada pela genética, pela alimentação, pelo estilo de vida, por doenças psicológicas, sedentarismo.
A obesidade se caracteriza pelo acúmulo de gordura corporal.
Acredita-se que, atualmente, 56% dos adultos brasileiros têm obesidade ou sobrepeso (34% com obesidade e 22% com sobrepeso). E, se mantidas as tendências atuais, daqui a 20 anos, 130 milhões de adultos brasileiros viverão com sobrepeso ou obesidade (83 milhões com obesidade e 47 milhões com sobrepeso).
Então, os obesos são a maioria da população. Bem, isso indica que o tema precisa ser mesmo estudado para valer. Até aqui, avançamos muito para a qualidade de vida de muitos pacientes, inclusive para aqueles com capacidade física limitada; mas, estamos cuidando dos obesos?
Nos Estados Unidos, “país responsável pela vasta popularização dos fast-food”, mais de 60% dos adultos são obesos.
Quais são os números da obesidade no mundo?
Algumas estatísticas mais recentes indicam que 39% da população mundial (38% do sexo masculino e 40% do sexo feminino) têm excesso de peso ou obesidade. Na Europa, 47% da população (55% do sexo masculino e 41% do sexo feminino) mostram excesso de peso ou obesidade e 13% da população (14% sexo masculino e 11.5% sexo feminino) sofrem de obesidade.
Quais são as consequências da obesidade?
A obesidade abre portas para outras doenças, como diabetes tipo 2, pressão alta, colesterol alto, derrame, entre outros problemas, tais quais dificuldade de locomoção, perda de qualidade de vida e baixa autoestima.
Quais são os principais sintomas?
- Hipertensão (pressão arterial alta)
- Síndrome metabólica
- Insuficiência cardíaca
- Baixo nível de testosterona em homens
- Distúrbios nos ciclos menstruais em mulheres
- Ansiedade e depressão
- Trombose
- Dificuldade de locomoção
- Acúmulo de gordura
- Níveis alterados de colesterol, glicose e triglicerídeos
Creio que a maioria das pessoas sabe diagnosticar a obesidade, correto?
O diagnóstico vem através do cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC), responsável por avaliar a relação entre peso e altura de uma pessoa. Se o IMC está acima de 30, é considerado obesidade.
Como avaliar o seu IMC?
Cálculo do IMC= Peso corporal em Kg dividido pela multiplicação da altura em metros pela altura em metros (em outras palavras, peso corporal dividido pelo quadrado da altura). O resultado do IMC será em kg/m2
- Peso normal: IMC entre 18,5 e 24,9
- Sobrepeso: IMC entre 25 e 29,9
- Obesidade Grau I: IMC entre 30 e 34,9
- Obesidade Grau II: IMC entre 35 e 39,9
- Obesidade Grau III: IMC acima de 40
Não há dúvidas de que a ajuda para o paciente obeso virá do seu médico.
A identificação dos hábitos diários e histórico familiar, durante a entrevista médica, permite uma busca da causa da doença, a avaliação dos impactos provocados pela obesidade e uma adequada direção para o tratamento do paciente.
Em algumas pessoas, pode ser identificada uma patologia como causa direta da obesidade, como hipotireoidismo (baixa atividade da tireoide), síndrome de Cushing (situação clínica em que a concentração dos corticosteroides está excessiva, geralmente devido ao uso de medicamentos corticosteroides ou a uma superprodução pelas glândulas adrenais), síndrome de Prader-Willi ( síndrome de deleção cromossômica, na qual parte do cromossomo 15 está faltando ou apresenta mau funcionamento. Os portadores dessa alteração cromossômica mostram apetite aumentado, em geral, a partir de um ano de idade e cursam com aumento de peso e obesidade. Podem ainda manifestar alterações hormonais e anatômicas de algumas glândulas) e outras condições.
Alguns problemas médicos, que levam à diminuição da atividade física, resultam em ganho de peso. Um desses exemplos ocorre em pacientes com artrite que mostram dificuldades em deambular e ficam com mobilidade reduzida.
Por outro lado, alguns medicamentos podem levar ao ganho de peso se não houver uma readequação da dieta e das atividades físicas. Essas estratégias para o controle do peso são importantes, quando os pacientes fazem uso de medicamentos, esteroides, medicamentos para diabetes, alguns antidepressivos, medicamentos anticonvulsivantes, medicamentos antipsicóticos e alguns bloqueadores beta.
Obesidade, como diagnosticar?
Para diagnosticar a obesidade, seu profissional de saúde pode realizar um exame físico e recomendar alguns exames.
Esses exames e testes geralmente incluem:
• Um exame físico geral vai incluir a verificação da sua altura e peso, dos sinais vitais, como frequência cardíaca, pressão arterial e temperatura; a avaliação clínica do coração e pulmões; e o exame do abdômen.
Já falamos sobre o IMC (índice de massa corporal, denominado IMC) e vimos que um paciente com um IMC igual a 30 ou superior é considerado obeso. Existem dados na literatura que demonstram que um IMC superior a 30 aumenta os riscos à saúde. A verificação do seu IMC, pelo menos, uma vez por ano, pode ajudar a identificar seus riscos gerais à saúde e, a partir daí, indicar uma estratégia adequada para o seu tratamento.
No exame físico, há um dado importante que é a verificação do tamanho da sua cintura. A distância em torno de sua cintura é conhecida como circunferência. A gordura armazenada ao redor da cintura, às vezes, chamada de gordura visceral ou gordura abdominal, pode, segundo publicações anteriores, aumentar ainda mais o risco de doenças cardíacas e diabetes. As mulheres com cintura superior a 88 centímetros (35 polegadas) e homens com cintura superior a 102 centímetros (40 polegadas) podem estar sob mais riscos à saúde do que pessoas com medidas de cintura menores. As autoridades científicas de outros países (fora dos EUA) recomendam limites menores, como 94 centímetros (37 polegadas) para homens e 80 centímetros (32 polegadas) para mulheres. Países da Ásia utilizam medidas ainda menores, como 85 centímetros (34 polegadas) para os homens e 74 a 80 centímetros (29–32 polegadas) para as mulheres. A exemplo do IMC, a circunferência da cintura deve ser verificada, pelo menos, uma vez por ano.
Há ainda uma discussão entre os investigadores qual seria a melhor a medida antropométrica para avaliar os riscos associados com a adiposidade, isso ainda não foi totalmente estabelecido. O índice de massa corporal (IMC), que é o peso dividido pelo quadrado da altura, é a medida mais comum de adiposidade global em estudos epidemiológicos. Entretanto, a distribuição de massa de gordura já foi descrita como um preditor mais importante de doença do que a adiposidade global. A circunferência abdominal (CA), também conhecida como perímetro abdominal, avalia a adiposidade subcutânea e visceral, e é facilmente mensurada e pode ser frequentemente usada como uma medida de gordura visceral em estudos epidemiológicos. A CA expressa, de forma mais eficaz que o IMC, a distribuição da gordura corporal. A CA está relacionada com a adiposidade visceral, que reconhecidamente acarreta danos à saúde. Em 1991 foi proposto por Valdez, como modelo para avaliação da obesidade e distribuição da gordura corporal, o índice de conicidade (IC), que utilizou como variáveis o peso, a estatura e a CA, amenizando a correlação da CA com a altura. Os autores levaram em consideração o fato de que a obesidade central, mais do que a obesidade generalizada, estaria associada às doenças cardiovasculares.
O IC foi fundamentado na ideia de que pessoas que acumulam gordura em volta da região central do tronco têm a forma do corpo parecida com um duplo cone, descritos como dois cones com uma base comum, enquanto que aquelas com menor quantidade de gordura na região central teriam aparência de um cilindro. Entretanto, dois estudos publicados, em populações distintas, uma em Salvador (Bahia, Brasil) e a outra no Rio Grande do Sul (Brasil), que utilizaram o índice de conicidade, não mostraram resultados coincidentes na predição de eventos cardiovasculares.
Assim, o IMC e a circunferência abdominal seguem com as medidas de rotina na avaliação da obesidade.
Na visita a seu médico, ele poderá avaliar os problemas já conhecidos da sua saúde e, ainda, poderá identificar outros problemas da sua saúde, como pressão alta, colesterol alto, uma baixa atividade da tireoide, problemas de fígado e diabetes.
Como vimos anteriormente, a obesidade pode advir de várias causas (sedentarismo, alimentação inadequada, estilo de vida, doenças psicológicas); assim, o tratamento será diferente de pessoa para pessoa. Um exemplo claro disso: muitas pessoas cumprem jornadas exaustivas no trabalho, ao lado de responsabilidades familiares e isso, de certa forma, dificulta uma rotina de exercícios físicos e o preparo de uma refeição balanceada.
Via de regra, a prevenção e o tratamento da obesidade têm linhas gerais semelhantes: uma dieta saudável, com pouca gordura e rica em vegetais, frutas e legumes, e com, pelo menos, meia hora de exercício por dia.
De acordo com o grau de obesidade e as complicações médicas já existentes decorrentes da própria obesidade, medicamentos, por exemplo, para o controle da pressão arterial, diabetes e alterações dos lipídeos sanguíneos (colesterol, triglicerídeos) podem ser necessários. Para alguns pacientes, conforme a avaliação médica, medicamentos ansiolíticos, antidepressivos ou outros de categoria semelhante poderão ser necessários.
Como dissemos anteriormente, identificada uma causa específica para a obesidade haverá uma estratégia bem definida; um exemplo disso, seria um caso de um paciente obeso com o diagnóstico de hipotireoidismo. Aqui haveria provavelmente uma indicação de tratamento com hormônios.
Como é do conhecimento geral, para o bem estar do paciente e, em alguns casos bem estudados, o médico assistente poderá indicar algum procedimento cirúrgico para um combate mais urgente da obesidade.
Bem, “coma menos, aumente a sua atividade física” pode ser um recado para qualquer pessoa. Mas, o melhor recado para todos, talvez seja, alimentação saudável, atividade física regular e uma avaliação médica anual.
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Como vimos, a obesidade tem muitas causas. E todos nós estamos sujeitos às alterações do nosso peso e estamos frequentemente à beira do sobrepeso e da obesidade. E confirmando isso, vimos que as pessoas com sobrepeso e obesidade são hoje a maioria da população.
Então, você calculou o seu IMC, hoje? Mediu a sua cintura abdominal? E quando será a sua próxima consulta com o seu médico?
Bem, para finalizar…
Coma saudável, faça alguma atividade física, não se afaste de seu médico (pelo menos, uma visita anual para uma avaliação clínica).
Referências
- Marc-André Cornier, MD — A Review of Current Guidelines for the Treatment of Obesity — Am J Manag Care. 2022;28(suppl 15): S288-S296.
- Paula Caitano Fontela et al — Estudo do índice de conicidade, índice de massa corporal e circunferência abdominal como preditores de doença arterial coronariana. (Study of conicity index, body mass index and waist circumference as predictors of coronary artery disease) -Rev Port Cardiol. 2017;36(5):357–364
- Mayo Clinic — March 28, 2023
- Medscape — August 29,2024